ESG no varejo: perspectivas, tendências e como começar

As medidas de sustentabilidade, implementadas por estratégias ESG, têm se tornado cada vez mais relevantes para os negócios. Porém, elas já não estão ligadas apenas à indústria, pois o ESG no varejo tem crescido no Brasil e no mundo.

 

Foto: Pexels (Ksenia Chernaya)

 

De acordo com uma pesquisa do Standard Chartered Bank, mais de US$ 2 trilhões podem ser investidos no varejo com foco em sustentabilidade, até 2030. O foco é especialmente amplo nos mercados em desenvolvimento e que oferecem grande potencial nesse sentido. Além disso, negócios varejistas focando em sustentabilidade e modelos circulares poderão compor um mercado de até US$ 4,5 trilhões. Considerando que mais de 60% dos consumidores estão dispostos a pagar mais por um produto sustentável, esse tema tende a se tornar cada vez mais relevante.

Por isso, vale a pena entender quais são as tendências de ESG no varejo e como lidar com elas. Neste artigo, você conhecerá as tendências de ESG no varejo, os temas materiais que normalmente são relacionados ao setor, as ações de grandes empresas do segmento e os primeiros passos para uma atuação mais sustentável.

Continue a leitura e confira!

 

ESG nas tendências do Varejo

NRF 2023: Retail’s Big Show

O NRF Big Retail Show é o maior evento de varejo do mundo e em sua edição de 2023 a pauta ESG ganhou amplo destaque. No encontro, um dos pontos de debate foi a adoção de práticas mais sustentáveis por parte dos varejistas e como isso pode impactar o mercado.

Entre os temas abordados e tendências apresentados, estiveram questões como:

  • Desafios para diagnosticar e implementar medidas ESG;

  • Priorização da sustentabilidade pelos consumidores;

  • Mais exigências para divulgação de medidas sustentáveis.

O evento também contou com uma reflexão sobre incluir a natureza como membro do conselho da empresa. A ideia é entender como os negócios mudariam ao adotar a sustentabilidade ambiental como um de seus pilares. Um exemplo dessa abordagem é a Patagônia, onde seu maior acionista hoje é o próprio meio ambiente.

O foco nesse assunto demonstra a importância dele para o varejo, uma vez que o setor é responsável por impactos negativos significativos ao meio ambiente e como isso se faz presente como uma tendência relevante para o segmento.

 

Temas materiais normalmente atribuídos ao setor

Os temas materiais de uma abordagem ESG se referem aos assuntos que são mais relevantes e que têm mais impacto sobre o negócio e sobre a cadeia de partes interessadas da empresa. Com isso, a materialidade no ESG é essencial para a consolidação de um plano de ação efetivo.

 

ABRAS, Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento

No caso do varejo, a Associação Brasileira de Supermercados (ABRAS) discutiu em seu Fórum da Cadeia Nacional de Abastecimento propostas que possam gerar impacto econômico, social, ambiental e de governança.

Entre os temas, onde foram considerados desafios e soluções, estavam:

  • Custo;

  • Crédito;

  • Desperdício;

  • Informalidade;

  • Qualidade dos produtos;

  • Combate à fome;

  • Equidade e diversidade;

  • Inclusão social;

  • Embalagem;

  • Resíduos;

  • Meio ambiente;

  • Energia;

  • Clima;

  • Reciclagem;

  • Emissões;

  • Coalizão multissetorial;

  • Métricas e medições;

  • Educação;

  • Comunicação.

 

Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da ONU

Entre todos os pontos apresentados, diversos desafios e propostas foram eleitos pelo fórum. Nesse sentido, alguns dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) foram especialmente contemplados, como:

  • 2 - Fome zero

  • 4 - Educação de qualidade

  • 8 - Trabalho digno e crescimento econômico

  • 9 - Indústria, inovação e infraestrutura

  • 10 - Redução das desigualdades

  • 11 - Cidades e comunidades sustentáveis

  • 12 - Consumo e produção responsáveis

  • 17 - Parcerias em prol das metas.

 

ODS 12 - Consumo e produção responsáveis

Um dos destaques fica para o ODS 12, que tem ampla aplicabilidade no varejo. Ao tomá-lo como orientação para as ações de sustentabilidade, é possível focar em questões como:

  • Conscientização sobre consumo;

  • Transparência sobre preços;

  • Não incentivo do consumo exacerbado;

  • Apresentação consciente dos meios produtivos;

  • Indicação de descarte adequada de produtos;

  • Coleta e destinação de embalagens;

  • Entre outros pontos.

Assim, é possível se basear nesse e em outros ODS para definir a melhor maneira de atuar para implementar mais sustentabilidade ao negócio.

 

3 ações ESG de empresas do varejo

Ao pensar na adoção do ESG no varejo, também é importante entender como algumas empresas do mercado já têm colocado as medidas em prática. Isso serve para entender como o varejo pode contribuir com a sustentabilidade e para definir como as medidas podem ser implementadas ao longo do tempo.

A seguir, confira 3 exemplos de ações ESG que já foram implementadas por varejistas brasileiras!

 

1. Magalu — Contratação exclusiva de aprendizes negros 

A Magazine Luiza, também conhecida como Magalu, implementou uma medida ESG por meio dos seus programas de trainees, em 2021. O foco do programa é a contratação exclusiva de pessoas negras, como política afirmativa.

Um dos focos do programa é fomentar a diversidade racial na composição dos quadros da empresa. A partir desse programa, também é esperado o fomento de desenvolvimento de lideranças diversas.

Na elaboração do programa, alguns critérios ajudaram a facilitar o acesso de profissionais, como não considerar questões como idade e instituição de ensino. Ainda, o engajamento da alta diretoria foi relevante para determinar o sucesso do processo seletivo, que foi repetido em 2022.

 

2. Mercado Livre — política de contratação e capacitação de fornecedores 

O Mercado Livre é outro varejista que passou a implementar medidas voltadas ao aspecto de sustentabilidade. Chamado de “Medindo o que Importa”, o programa foca no apoio e capacitação de parceiros em relação à adoção de práticas sustentáveis.

Na Argentina, no Brasil e no México, o Mercado Livre seleciona, desde 2019, pequenos grupos de fornecedores estratégicos para adotar esse processo, em parceria com o Sistema B. O objetivo é estimular os parceiros a avaliarem seus impactos socioambientais, medindo seus efeitos em toda a cadeia.

O esperado é que, com a aplicação do sistema, os fornecedores se tornem Empresas B. Para o Mercado Livre, a iniciativa permite que o varejista tenha uma cadeia de suprimentos mais sustentável, colaborando com o desenvolvimento de outros negócios.

 

3. Via Varejo — coletores de eletroeletrônicos nas lojas 

A Via, anteriormente conhecida como Via Varejo, desenvolveu um programa chamado Reviva. Ele se tornou o maior programa de reciclagem do varejo brasileiro, focando na arrecadação de materiais recicláveis e eletroeletrônicos.

Nesse sentido, o programa funciona em duas frentes. Na parte de recicláveis, há a captação dos resíduos recicláveis gerados em escritórios, lojas e demais unidades de atuação do grupo. Os materiais são entregues para cooperativas parceiras, o que ajuda a proteger o meio ambiente e fomenta o desenvolvimento socioeconômico.

Já a prática relacionada aos eletroeletrônicos se relaciona aos pontos de coleta para descarte dos clientes. Posteriormente, os produtos são enviados para um parceiro especializado.

O programa Reviva existe desde 2015 e ajuda a diminuir o volume de lixo descartado e de recursos que precisam ser explorados, por exemplo. Além disso, ele auxilia dezenas de famílias que vivem da reciclagem de materiais.

Ao mesmo tempo, é preciso ter atenção sobre esses exemplos em dois pontos principais. O primeiro deles é que a existência desses programas não deve ser utilizada como manobra para encobertar os impactos negativos que toda empresa, de qualquer setor, certamente gera. Elas estão demonstrando um caminho positivo que pode ser seguido por outros negócios, mas é fundamental compreender que o ESG é um compromisso e um processo contínuo e não um atestado definitivo sobre a empresa.

O segundo aspecto para considerar é que as ações de sustentabilidade devem ser implementadas por empresas de todos os tamanhos. Embora os exemplos façam referência a grandes empresas, adotar ESG não é uma exclusividade dos gigantes do mercado.

 

Os primeiros passos das empresas do varejo no ESG

Para gerar resultados efetivos e que realmente contribuam para a sustentabilidade, uma empresa de varejo precisa conhecer os primeiros passos para implementar as medidas de ESG. Nesse sentido, é interessante saber quais são os passos recomendados pela Geração Social, empresa especialista em ESG, parceira do Great Place to Work Brasil e integrante do ecossistema Great People.

A partir desses passos, será mais fácil compreender quais devem ser os pontos de atenção na Jornada ESG e como consolidar uma estratégia de sustentabilidade que seja realmente efetiva.

Confira!

 

Diagnóstico de sustentabilidade: Pacto Global e Sistema B

O primeiro passo para começar as iniciativas de sustentabilidade é realizar um diagnóstico da situação atual da empresa de varejo. A intenção é conhecer quais são os pontos principais e que merecem mais atenção.

Nesse sentido, é possível focar em dois pontos iniciais: o Pacto Global e o Sistema B, já que ambos poderão embasar a estratégia. A seguir, entenda mais sobre esses conceitos!

 

Pacto Global

O Pacto Global, da Organização das Nações Unidas (ONU), é a iniciativa atual mais importante em relação à sustentabilidade em todo o mundo. O objetivo dela é engajar empresas de todos os portes e setores para adotar os princípios norteadores.

Divididos em 10 pontos principais, eles definem que as empresas devem:

  • Apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecidos internacionalmente;

  • Assegurar-se de sua não participação em violações destes direitos;

  • Apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva;

  • Eliminar de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório;

  • Abolir efetivamente o trabalho infantil;

  • Eliminar a discriminação no emprego;

  • Apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais;

  • Desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental;

  • Incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis;

  • Combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina.

Ele também está relacionado aos ODS, já citados e que ajudam a nortear a conquista de resultados por parte da empresa. No caso do varejo, o negócio pode tornar-se signatário do Pacto Global como etapa inicial da Jornada ESG, o que ajuda a fazer um diagnóstico mais direcionado e efetivo.

 

Sistema B

A Avaliação de Impacto B ou Sistema B é uma ferramenta que ajuda a medir o impacto positivo gerado por uma empresa, em termos de sustentabilidade. Nessa etapa de diagnóstico, o Sistema B é fundamental para identificar como a empresa impacta suas partes interessadas, também chamadas de stakeholders.

Ainda, ele permite fazer benchmarking com outros negócios do mesmo setor e porte. Assim, uma varejista pode usar os resultados desse relatório para entender como ela se posiciona em relação a seus concorrentes em termos de sustentabilidade.

 

Materialidade

A realização de um diagnóstico efetivo é essencial para a segunda etapa, que está relacionada à materialidade. Esse conceito envolve a definição dos temas que serão o foco das ações e que nortearão o plano de sustentabilidade do negócio.

Para encontrar esses temas, é possível usar a matriz de materialidade. Ela serve para cruzar os assuntos que têm maior impacto na empresa com os interesses mais relevantes das partes interessadas.

Logo, é preciso fazer pesquisas para identificar quais são as prioridades dos stakeholders, considerando clientes, colaboradores, fornecedores, parceiros, órgãos reguladores e outros.

Com essa metodologia, é possível focar no que é realmente importante para toda a esfera de influência da empresa, em vez de ser considerada apenas a visão interna do negócio. Desse modo, o negócio de varejo pode implementar a Jornada ESG de forma muito mais eficiente e relevante para as suas partes interessadas.

 

Relatório de Práticas ESG

Para as empresas que já possuem práticas ESG e desejam aprimorá-las ou para aquelas que passam a adotar essas medidas, o Relatório de Práticas ESG costuma ser bastante relevante. Ele tem como principal objetivo permitir que a empresa comunique as ações que são adotadas, ainda que ela esteja no início de sua jornada.

Ele serve para reunir práticas, indicadores e resultados, dando mais transparência a todas as ações incorporadas. Esse relatório também deve ser acessível e didático e é uma ferramenta importante para centralizar as informações.

A elaboração dele pode ser feita a partir de um alinhamento com os responsáveis pelas ações após treinamentos sobre sustentabilidade e ESG. O objetivo é coletar informações sobre as práticas, com foco no impacto positivo causado pela empresa de varejo.

Vale notar que para elaborá-lo não é preciso ter realizado o diagnóstico e nem ter materialidade — ao contrário do que acontece com os Relatórios de Sustentabilidade em conformidade com o GRI, por exemplo. No geral, ele serve como um comunicado do que já foi feito e pode ser atualizado conforme o negócio avança em sua jornada de sustentabilidade.

 

Conclusão

Neste artigo, você percebeu que o ESG no varejo é uma tendência e, mais que isso, um movimento crescente no Brasil e no mundo. A partir da adoção de boas práticas sustentáveis, as empresas do setor podem colaborar em aspectos ambientais, sociais e de governança, impactando positivamente a cadeia produtiva.

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